segunda-feira, março 1

"Com Quem Você Pode Contar"


Dentre os muitos planos que eu poderia ter traçado para o final de semana, eu acabei indo - acreditem se quiser - à igreja. E sim, foi só durante uma hora, acompanhando uma amiga (OI, TOPS!), mas ainda acho que conta. Quer dizer, se formos contar os aproximadamente cinco minutos que passei dentro de igrejas durante toda a minha curta existência, essa uma hora foi bastante significativa.

Não vou dizer que mudei minhas crenças. Não foram sessenta minutos tão mágicos assim. Entretanto, é meio que bonito de se ver. A fé é muito interessante - o que leva milhares de pessoas a acreditar fielmente em uma história tão fantasiosa quanto Harry Potter ou O Senhor dos Anéis? O que faz com que elas vão, semana após semana, a um lugar sagrado para agradecer ou implorar a boa vontade de uma criatura invisível, incerta e - vamos admitir - de humor um tanto instável?

Sem ofensas. Sei que meu último texto sobre deus pendeu para o ataque; este, porém, tem a intenção de ser inofensivo. Só que acho realmente impressionante. Acho tão plausível quanto acreditar em Aslam, com a diferença de que Aslam de fato aparecia, em carne e osso, para lutar ao lado dos narnianos. De onde vem essa habilidade inata de crer? Eu não a tenho. Bem, tenho, mas quanto a outras coisas - acredito em alma, em espíritos, em vida após a morte. Quando preciso de ajuda ou estou com medo, eu falo com pessoas conhecidas que já se foram, e não com um Papai Noel barbudo me assistindo de cima das nuvens.

Alguns estudos afirmam que o ser humano nasce programado para acreditar em uma força maior. Não me perguntem, não me lembro quais foram esses estudos no momento, mas sei que existem. Eu sou mais inclinada à outra alternativa - a de que o homem inventou deus, e não o contrário. De que ele viu todo esse acaso distribuindo alegrias e tragédias por aí e quis possuir algum sentimento de ordem e proteção em meio à essa loucura. Então surge deus. Ele é a força daqueles que não têm mais com quem contar ou a quem culpar.

Você queria morar em São Paulo e acabou no Acre? Deus quis assim. Você levou três anos para acabar de reformar sua casa e um terremoto a destruiu dois meses depois? É um castigo de deus. Você se matou de estudar para passar na federal e entrou? Graças a deus.

O mundo é uma série de reviravoltas sem sentido, repleto de tristezas demais e felicidades escondidas, uma onda atrás da outra, que vêm antes que se consiga recuperar o fôlego. Não há ordem. Não há proteção. Cada um tem apenas a si mesmo e a sua família - seja sua família formada por amigos ou parentes de sangue, o que importa é que são essas as pessoas com quem você pode contar. Elas estão aí na sua frente, podem ser tocadas, abraçadas, elas consolam e riem. Elas, sim, merecem sua fé e seu agradecimento.

E aquele ritual, a missa, com pessoas cantando e rezando de joelhos, com histórias bíblicas entremeadas de orações? Não foi ruim. Foi... diferente. Apesar de eu não pertencer àquele lugar, era possível perceber a tradição que os envolvia. Então, pensei, se a religião traz tantos problemas, discussões, guerras e dúvidas, ao menos eu talvez tenha encontrado sua utilidade: ela forma famílias. Ela une alguns vizinhos, um bairro, um povo... E se deus não estiver lá quando for necessário, talvez essas pessoas estejam, uma para a outra. E isso já é alguma coisa.