terça-feira, dezembro 22

"Há Um Ano"





Eu acordei cedo naquele dia, vesti a roupa que havia escolhido depois de tantas ponderações no dia anterior. Não lembro se tomei café, mas minha mãe deve ter me obrigado a colocar alguma coisa no estômago inquieto. Recebi abraços de boa sorte, estava pulando de um lado para o outro, nervosa, ansiosa, empolgada. Apavorada.

Andei com a minha mãe até o ponto de ônibus enquanto o sol ainda se espreguiçava, nem aparecia totalmente. E lá estava eu - cidade nova, pessoas novas, e, que deus me protegesse, uma linha de ônibus que eu nunca tinha visto antes e que, com sorte, me levaria a faculdade.

Era meu primeiro dia. A universidade parecia gigantesca, perfeita para que eu me perdesse, e todos tinham aquele ar de gente muito importante, muito ocupada, muito inteligente. Quer dizer, eles deveriam ser isso tudo, não? Eles estavam no ensino superior! Ah, ops... Agora, eu também estava. Ainda assim, era para eu me sentir tão... pequena? E desnorteada?

Isso foi há um ano atrás - e parece mais que uma vida. Eu não conhecia ninguém, não acreditava realmente na minha capacidade de morar sozinha, tinha certeza absoluta de que ia me perder centenas de vezes na minha nova cidade grande - e era orgulhosa demais para pedir ajuda. Queria desesperadamente provar para mim mesma que podia fazer aquilo, que podia ser a pessoa que queria. Estava tão, tão animada, e tão completamente mortificada ao mesmo tempo!

Hoje? É até engraçado. A idéia de não ir à faculdade é ridícula. Sabe, é um milhão de vezes melhor do que a escola. E as pessoas? Aquelas criaturas estranhas, independentes, bem-resolvidas? Acontece que, a partir do primeiro "oi" sem graça, elas se tornam iguais a você - e, como você, elas não sabem exatamente como agir no início. E, um pouco mais tarde, elas se tornam suas amigas, e, alguns meses depois, é impossível imaginar a vida sem elas! Não é uma maluquice total e completa que agora eu me importe tanto com pessoas que nem sequer conhecia onze meses atrás?

E que eu conheça as ruas ao meu redor, e tenha pontos de referência - certo, não muitos. Eu amadureci, mas continuo um ser perdido, incapaz de guardar mapas na cabeça - e restaurantes preferidos, e lugares para ir? Que eu saiba pagar contas, e cozinhar e ir ao supermercado, e limpar o apartamento, e ficar sozinha depois de ver séries policiais ou trailers de filmes de terror sem morrer de medo? Não é a coisa mais incrível do mundo que eu tenha uma rotina, uma vida inteira que não imaginava há um ano?

E que, aliás, pedir informações não seja algo tão vergonhoso como eu supunha?

Bem, pode não parecer muito para vocês. Para mim? É a maior vitória, o maior orgulho da minha vida. Mesmo que falte um longo caminho - com pequenas coisas, sem importância, tipo, hã, arrumar um emprego? Só detalhes dispensáveis, haha - eu aprendi a me virar por conta própria. Por conta própria com uma ligação diária para casa, porque continua sendo indispensável ouvir a minha mãe de vez em quando. But, anyway.

Eu mudei. Não doeu nadinha! Sem querer soar repetitiva, mas não é incrível?

Enfim, esse é provavelmente o último post do blog, esse ano. Então, queria que ficasse devidamente registrado que ele foi maravilhoso - e só um  pouquinho difícil, no começo (entretanto, se não fosse, qual seria a graça?). Obrigada a todas às pessoas novas e às pessoas antigas, que continuaram comigo. E aos meus quatro ou cinco leitores, é óbvio, já que sem vocês eu estaria simplesmente desabafando para o nada e, afinal, é bom ser ouvida.

Bom Natal, feliz Ano Novo, e que 2010 seja ao menos tão bom - mas, de preferência, que seja muito melhor - que 2009, para todos vocês.

Marcela L.

segunda-feira, dezembro 7

"E se eu tivesse três desejos?"



1, 2, 3... Afastem-se! Biiiip. Operação de ressucitação realizada com sucesso. O blog está vivo, senhoras e senhores! É um milagre!

Maravilha, agora vamos ao que interessa. Eu fiz dezoito anos. E, como a emoção de me tornar maior de idade é grande - ainda que eu não beba, não tenha nenhum desejo secreto de experimentar drogas e não planeje ser presa OU alugar filmes pornôs, o que já me avisaram que eu posso fazer, se quiser - esse vai ser o ponto de partida do meu texto de hoje. No próximo, juro que volto com mais teorias mirabolantes e idéias polêmicas, para vocês ficarem bem reflexivos em seus lares.

Ter dezoito anos é... Bom, é basicamente a mesma coisa que ter dezessete, para dizer a verdade. E, para quem está esperando uma grande mudança de personalidade desde os quatro anos, mais ou menos, isso já não é novidade. Eu sempre acho que vou encontrar alguma alteração dramática em mim mesma após soprar as velinhas, e sempre tenho que aceitar que, no fim das contas, não vou acabar muito distante do que sou agora. Não que eu tenha do que reclamar, não mesmo. Não que eu não fosse gostar de ter uns quilos a menos - sem exercícios e comendo todas as besteiras possíveis, é claro.

Se bem que, se vou entrar no quesito desejos impossíveis, é melhor caprichar. Quer dizer, e se um dia eu estivesse andando por aí, muito distraída, rindo de alguma bobagem que havia acontecido mais cedo e enrolando um cacho de cabelo na ponta do dedo, e descobrisse que na verdade não estava tropeçando nos próprios pés como de costume, mas sim em uma lâmpada mágica? E se eu vivesse em um mundo paralelo onde essas coisas de fato acontecessem, e esfregasse a lâmpada e dela saísse um gênio e me concedesse três desejos?

(Nossa, e se eu realmente amadurecesse com dezoito anos e parasse de imaginar histórias desse tipo? O que seria da minha vidinha não tão emocionante quanto os contos de fadas?)

Retomando; caso essa oportunidade apareça, é bom estar preparada. Então, como não custa ser prevenida, preparei uma lista com os meus três desejos - só por garantia, todos muito bem detalhados e esmiuçados. Vai que eu encontro um gênio de meia-tigela? Nunca se sabe.

1. Em primeiro lugar, eu pediria para que eu e todas as pessoas de quem eu mais gosto vivêssemos por todo o tempo que quiséssemos, 100, 200, 300 anos, e com a saúde perfeita. É claro que, quando decidissemos que a hora tinha chegado, que a vida na terra já não era mais grande coisa e que estávamos prontos para partir, poderíamos morrer apenas fechando os olhos e desejando. Eu acho que esse é um desejo muito melhor do que um simples "viver para sempre", já que deve ser muito solitário ver todos os seus amigos e família partirem e ter que continuar sem eles. E, assim, não haveria o medo de não ter tempo suficiente, nem de ficar solitário.

2. Como um grupo razoavelmente grande de pessoas viveria por tempo indeterminado, seria bom ter algumas garantias. Assim, meu segundo desejo seria uma conta mágica no banco que sempre cobrisse o valor retirado. Não que eu não tenha vontade de trabalhar, de ganhar dinheiro com esforço e merecimento - tenho sim. Mas a idéia de poder fazer só o que gosto e ainda viajar nas férias anos após ano parece tão boa que dá vontade de dançar.

O que eu faria com o dinheiro, além de viajar para cada mínimo cantinho inexplorado do planeta? Compraria uma casa linda, com um pátio enorme, nem grande nem pequena demais. Pintaria as paredes de azul e o telhado de branco, e teria flores em canteiros ao redor. Então compraria uma casa para os meus pais pertinho de mim, e uma lancha para os dias de praia no verão, e cavalos para os dias de inverno no campo. E daria os melhores presentes do mundo nos aniversários dos meus amigos, e adotaria uns cinco filhos - com um salário de jornalista, é altamente improvável que eu consiga criar mais de duas crianças de forma apropriada, mas é bom manter as esperanças.

3. Por fim, eu ia querer um romance de cinema. Um amor no estilo "O Diário de Uma Paixão", com beijos na chuva e tudo o mais. Ia querer uma história linda todos os dias, com surpresas e aventuras e só um pouquinho de rotina confortável, segura, algo firme em uma tempestade, e mais nada.

Eu ia querer uma vida boa demais para ser verdade - uma vida que eu ainda espero que aconteça, de forma um pouquinho mais realista, tudo bem, todos os dias. Certo, certo, eu admito. Os dezoito anos ainda não devem estar surtindo efeito. Talvez nunca surtam. Mas esses seriam meus desejos.

O que você pediria?

domingo, outubro 25

"Retrato de Família"


Será que todas são tão bipolares quanto a minha?

sexta-feira, outubro 9

Um Deus Melhor para Um Mundo Melhor



Se houvesse uma eleição para Deus, você o reelegeria? Ou votaria em outra pessoa (ser, criatura, divindade)?

Essa foi a enquete que eu e minha mãe fizemos, há, não sei, uns dois anos atrás, partindo do pressuposto, é claro, de que realmente haja alguém acima de nós. Muitas pessoas disseram que escolheriam outro candidato. Muitas também alegaram que "é melhor não arriscar", e continuariam com esse governante de meia tigela. É melhor deixar gente passando fome e desastres naturais matando milhões por ano, porque sabe-se lá o que pode acontecer com outro.

Eu votaria em alguém diferente. Alguém que não fosse tão arrogante a ponto de exigir servidão absoluta, de querer ser louvado o tempo todo. Que não se dissesse bom e paternal minutos antes de mandar um dilúvio. Que não obrigasse ninguém a morrer "pela sua fé". Que realmente não desse a ninguém mais do que se pode carregar.

E que, além disso, controlasse um pouco melhor essa loucura que anda acontecendo aqui embaixo. Nada contra queimar no mármore do inferno, mas seria bom ter algumas garantias - com as pessoas certas. Aí está outro ponto: sabe aquele ditado, "aqui se faz, aqui se paga?" eu gostaria que fosse verdadeiro.

Pensando assim, começo a pensar se não seria besteira escolher uma pessoa só. Afinal, para que esse totalitarismo? Não vivemos todos em uma democracia há décadas? Bem que está na hora do Céu se modernizar também; deixar um deus só lá em cima está trazendo complicações... e imagina o estresse (porque, se somos mesmo à imagem e semelhança de deus, eu acredito que ele sofra de todos esses problemas, tenha todas essas falhas... Mas, espera aí! O que então lhe dá o direito de governar? Onde foi parar a tal "perfeição"? Assuntos para mais um texto ou dois...)!

Espertos mesmo eram os gregos e romanos, que tinham um deus para cada coisa. Faz muito mais sentido, e evita abusos. Um cuida da miséria no mundo, outro dos crimes, outro das tempestades, outro da agricultura, e assim por diante. Como eles, também podiam aparecer por aqui de vez em quando, fazer uma campanha básica, dar uma ajudinha quando necessário. Só para acalmar os incrédulos, sabe como é. Eu particularmente sou uma que está precisando ver para crer.

Assim, começo aqui minha campanha Um Deus Melhor para Um Mundo Melhor. Alguém quer participar?

sábado, outubro 3

"Ninguém quer Saber de Tudo"


Se você já assistiu uma aula com a turma de Comunicação Social - ou será só no jornalismo? - vai saber do que eu estou falando. Se não assistiu, uma novidade: é tudo culpa da Globo, o povo vive alienado, e a TV para o entretenimento é o mal do século.

Haha. Falando sério, eu não imagino que isso seja totalmente verdade; todos têm um mínimo discernimento do que é ficção e do que é realidade. Além do mais, a Globo pode não ser perfeita - e não é - e, entretanto, há uma lista de problemas muito mais graves do que ela no planeta, convenhamos.

Mas o que parece mais extremo, na minha humilde opinião de estudante de 2º período, é a conversa de que só devíamos assistir a noticiários e programas educativos. Séries, novelas, reality shows, programas de auditório? Tudo besteira, tudo aí para "alienar" o povo, para fazê-lo esquecer das tragédias ao seu redor e parar de se preocupar com coisas sérias. O bom mesmo é estar alerta 24h por dia, sabendo de todos os podres do Congresso, de acidentes nas estradas, dos pais que mataram a filha. Isso sim é que é vida!

Agora, desculpem-me os jornalistas e comunicadores em geral, mas ninguém quer saber de tudo. O mundo é horrível o suficiente com meia hora de informação, quem sabe um pouco mais. É só folhear um jornal qualquer e as notícias ruins saltam aos seus olhos, vindas de toda a parte. Para que saber mais? Para ter mais dor de cabeça? Para não conseguir dormir à noite? Digam o que disserem, um pouco de alienação pode trazer muita paz de espírito.

Afinal, um homem ou uma mulher que trabalharam o dia inteiro não querem voltar para casa para ouvir desgraças. Podem até ver o Jornal Nacional - na Globo, hahaha! - mas depois vão acompanhar a novela. Vão de distrair e descansar, tirar da cabeça que vivem em um lugar perigoso e injusto, e fingir que tudo está ótimo por aquela uma hora que seja.

E não posso culpá-los. Aliás, eu incentivo. Acho que a ignorância, às vezes, é uma benção. E é mais saudável - pergunte a todos os bem informados estressados por aí.

terça-feira, setembro 8

"Uma Qualidade Redentora"


Você já ouviu aquele papo sobre "todos terem uma qualidade redentora"? Sobre como devemos amar cada um pelo seu lado bom? Já te disseram que Hitler adorava cachorros?
Eu acredito nisso. Acredito que ninguém é cem por cento iluminado, um poço de gentileza e compreensão - aliás, por sorte: essa pessoa perfeita seria extremamente irritante, e muito, muito sem graça. Também não acho que alguém esteja completamente no lado negro da força. Deve existir uma coisinha, um detalhe, uma história, algo de que esse vilão goste, ou com que se importe. Não consigo imaginar um ser humano que não se prenda a nada, que não ame ninguém.

Mas vem então a segunda afirmativa: devemos amar cada um pelo seu lado bom. Sério? Você amaria um assassino, um estuprador, um monstro porque, sei lá, ele gostava de flores? Ou porque ele perdeu a mãe quando criança? Ou porque ele tinha um gato de estimação?

Flores, pais, crianças, bichinhos são todas coisas lindas. Não são, entretanto, uma desculpa suficiente para crimes assim. Hitler amava cachorros mas matou milhares de pessoas; o que só mostra que para ele os judeus, negros e homossexuais eram mais insignificantes que animais "irracionais" (eu acredito com todas as forças que os animais pensam e sentem como nós, mas essa é outra história). Às vezes o lado bom simplesmente não é forte o suficiente para superar o ruim. Existem pessoas pelas quais não vale a pena lutar, por mais cruel que isso possa parecer.

É diferente ter uma visão maniqueísta do mundo e ter consciência de que andam por aí indivíduos maus. Por que andam, sim. Não faz diferença se eles estão arruinando vidas por vingança ou por doença - na maior parte das vezes, eles estão arruinando vidas e isso é suficiente para condená-los. São poucos os casos que me deixam em dúvida, que me fazem perguntar quem é realmente o mocinho e o bandido.

Somos todos humanos - com alegrias e tristezas, e memórias e preferências, e paixões e fúrias que vêm e vão o tempo inteiro. Mas é a forma que se lida com essa bola de neve de emoções que faz de você bom ou mau. Você pode pender para um ou outro lado, e tentar deixar a balança em equilíbrio. E ir levando assim, com leves oscilações, realizando nossa pequena dança entre o moral e o imoral, sem nunca encostar em uma das extremidades, sempre voltando para o meio, para o não-tão-bom-e-não-tão-ruim que é o normal.

Agora, quem perde mais tempo agindo de forma perversa, realizando atrocidades, quem comete barbaridades sem sequer se dar ao trabalho de demonstrar culpa... Bem, não venha me dizer que essa é uma pessoa boa. Mesmo que ela goste de cachorros.

segunda-feira, agosto 24

"O que acontece nas escolas?"


Como acontece uma vez ou outra, hoje estou com vontade de escrever um texto mais direto, sem tantas reflexões e subjetividades. O tema? A educação no Brasil.
A revista Época publicou que 20% dos alunos brasileiros desistem no Ensino Médio. Antes, já havia mostrado reportagens sobre professores incapacitados, violência na sala de aula, e problemas afins. Afinal, o que acontece hoje nas escolas?
Os problemas vão desde a falta de um meio de transporte, passam por professores sem habilidade de transmitir conhecimento, escolas em que falta infra-estrutura, e chegam até alunos desinteressados. Nem tudo é culpa do governo, ainda que eu seja absolutamente contra o Lula e seus votos às custas de cestas básicas. Enfim.

Não acho que seja tudo um plano maléfico do Planalto, apesar de ser bem útil a seus propósitos, deixar a educação pública nesse estado. É verdade que um povo analfabeto não fica sabendo de seus escândalos, não lê a sujeira de nossos líderes todos os dias em jornais e revistas. Um cidadão que não foi apresentado a livros, a cultura, a possibilidades, que não tem grande perspectiva para sua vida, vai vender seu voto para o primeiro que lhe der algumas esmolas.

Mas também não é benéfico para o Brasil ter a péssima reputação que tem hoje. Por isso, não, não acho que o presidente e seus companheiros e companheiras estejam tramando para destruir os futuros eleitores. Acho que são apenas incompetentes e ladrões, só isso.

Existe, porém, o comportamento do próprio aluno. Quer dizer, 20%? O que faz com que tanta gente simplesmente pegue sua mochila, jogue fora os cadernos e desista? Se os profissionais soubessem do que estavam falando, se comparecessem às aulas, se o colégio fosse um ambiente mais confortável, eles ainda iriam embora? Provavelmente não tantos. Outros, sim.
Dê uma olhada em uma apostila de Ensino Médio. Só uma olhada rápida - são páginas e mais páginas de assuntos estranhos, desconhecidos, e, em sua maioria, inúteis. Coisas que ninguém jamais verá de novo na vida - e, para os dois ou três que quiserem aprender números complexos ou saber o que são xilema e floema, lhes apresento a faculdade. Os alunos não agüentam passar horas ouvindo falar de algo que não terá qualquer aplicação prática em suas vidas. Não têm interesse em realidades tão distantes das deles.

Não é errado abrir portas. Mostrar o que é química, física, biologia, matemática. Mas quatro anos de elementos da tabela periódica vão fazer o que por você? Não muito além de confundir sua cabeça - e enquanto isso muitos não aprenderam a realizar os cálculos mais básicos ou a ler e interpretar um texto. Portanto, um ano dessas maluquices provavelmente seria o suficiente.

As dificuldades estão longe de terminar; ainda falta muito para desviarmos de todos os obstáculos que são atirados à nossa frente. Mas seria um bom começo ouvir aos estudantes. Não são eles os principais envolvidos? Quem sabe eles também não podem colocar alguma ordem nessa bagunça?
(Texto inspirado em uma aula cheia de quase-jornalistas revoltados. Como sempre.)


"Você acredita em destino?"


Você acredita em destino? Acredita que algo esteja predestinado à acontecer, que cada um tem uma missão nesse planeta?

Eu acredito - às vezes. Em outras não. Mais ou menos como minha crença em um ser superior, que oscila o tempo todo e cada vez mais (atualmente pendendo para um grande "não"), minha fé em um futuro traçado depende do dia.

Cada um é livre para tomar as decisões que quiser. Mas e se estivesse escrito que você mudaria de idéia? E se cada mínimo pensamento que ocupa sua mente já esperasse por você, pronto e definido? Bem, então não faria muita diferença. Assim, a existência ou não do destino sequer importaria muito.

A não ser... A não ser naqueles raros momentos, aqueles instantes em que a vida corre contra todas as probabilidades. Como quando você quer algo - quer de verdade. E estuda, trabalha, se dedica completamente a seja lá o que for. Você é ótimo, está quase lá, todas as chances são de sucesso... e não funcionou. "O que tiver de ser será", vão dizer, "Tudo acontece por um motivo". E o que é isso senão o destino em ação?

Sonhos não concretizados podem ser resultado de incapacidade. De falta de esforço. Ou de um destino cruel. Ele deixa que você brinque com ele, reescreva as linhas, mude os caminhos para um mesmo lugar. Até que de repente, de maneira brusca, inesperada, acontece.

Nós estamos presos à uma história?

Talvez. Talvez não passemos de uma linda brincadeira, um faz-de-conta de alguém lá em cima. Mas e eu, que não acredito nesse "alguém"? Sou brincadeira de quem? Então, então talvez sejamos o acaso. Livres e leves e soltos para fazermos o que quisermos, temos o planeta à disposição e nenhuma amarra para nos impedir. Será? De onde eu vejo, podemos ser tanto as bonecas quanto as crianças.

Afinal, as coisas ruins podem ser apenas má sorte. Os momentos maravilhosos podem ser nossa pequena cota de felicidade, distribuída de forma tão injusta por aí. Quem sabe? Aquele ser superior em quem não creio? Ou talvez ninguém saiba, talvez não importe.

Hoje acho que acredito um pouquinho mais. Amanhã, quem sabe? E você? Você acredita em destino?

quinta-feira, agosto 13

"Isso é Mágica"


Só para reafirmar o óbvio: o tempo passa rápido. E a mágica se desfaz. Papai Noel não existe, mães não têm superpoderes, todos vão morrer um dia. Não é a Fada do Dente que deixa dinheiro embaixo do seu travesseiro - se bem que eu nunca acreditei muito nessa. A sua carta de Hogwarts não vai chegar, o Peter Pan não vai aparecer na sua janela. Borboletas não são cores com asas. Você provavelmente não vai conseguir ter um tigre de estimação, ou virar uma dançarina famosa.

Tudo bem. Você ganha novos sonhos, mais reais - e guarda consigo uns poucos sonhos absurdos, just in case, sabe como é.

Os medos também são substituídos, pouco a pouco, sem que você perceba. Eu, por exemplo, tinha medo de palhaços, do Pinocchio, de escuro, do Michael Jackson, do Corcunda de Notre Dame. Tinha medo que uma guerra começasse - passava noites imaginando, em pânico, o que faria se de repente anunciassem na televisão. Esse medo ainda tenho; ele chega quietinho, de vez em quando, para me assustar, assim como os barulhos da escuridão. Mas o resto foi embora, e eu nem lembro quando; nem pude me despedir.

E assim a vida se desenrola, como se não tivesse fim, e cada fase vem e vai e aí... acabou.

E quando acabar, você não terá dito a ninguém os seus segredos. Ninguém vai saber que você queria ser bailarina quando pequena, ou veterinária, ou sereia. Que você aprendeu a desenhar quando ainda nem se entendia por gente e se encantou com os lápis de cor. Que você morria de medo de que ninguém fosse em sua festa de aniversário, ou de apresentar trabalhos na frente da sala, mas superou isso com o tempo.

Ninguém vai saber o que você desejava todo ano quando soprava a velinha do bolo - eu desejava ser um escritora famosa, viajar pelo mundo, viver para sempre, ter um namorado, ter um cachorro, ir para a Disney. Ainda desejo.
Diga. Grite. Conte para quem quiser que você ainda gosta de olhar a lua, que faz pedidos à estrelas, que lê em velocidade absurda, que dança na sala de estar, que come brigadeiro na panela. É importante; mais do que saber quanto você ganha por mês, ou quantos anos você tem.

Assim, quando acabar, você não será só mais um. Será aquele que gostava disso e daquilo, que odiava tal coisa, que desejou sei lá o quê. Será inesquecível por mais um instante. Especial.

Ótimo, você está pensando. Toda essa enrolação para quê?
Para nada específico, na verdade. Para lembrar que sonhos não foram feitos para serem escondidos, mas para conquistar o mundo, para deixar sua marca. E todos nós, também. Isso é mágica.

segunda-feira, agosto 3

"Possibilidades"



Provavelmente uma das coisas mais subestimadas na adolescência é o fato de que todas as portas do mundo estão abertas para você. Quando somos novos, o mundo é um poço de possibilidades - a maioria não reconhecida quando tudo o que se quer é ir a festas, ficar, dançar e passar horas na internet.

Para os que analisam a situação, ter pouca idade tem um benefício maior do que não pagar suas contas e poder comer porcaria sem engordar (o que só acontece com alguns...). Possibilidades.

E aí chegam, logo atrás - medo, empolgação, nervosismo, felicidade, imaginação, ansiedade, curiosidade, um pouquinho de pressa. Talvez não pareça uma idéia tão atraente para alguém que não está a fim de uma confusão emocional de proporções astronômicas. Na verdade, essa bagunça sentimental vale, e muito, à pena.

É incrivel ter o poder de fazer o que quiser - absolutamente qualquer coisa - com sue futuro. Ser médico, professor, bailarina, piloto de corrida, biólogo, jornalista, desenhista, atriz, ser o que bem entender desde que esteja disposto a trabalhar um pouco para isso. É incrivel estar deslumbrado com a vida, otimista e corajoso, porque pode chegar um momento em que a vida o terá derrubado. E a partir desse momento, você irá até o fim sendo você, sem tirar nem pôr.

Para os sortudos, esse instante nunca chega. Para a maioria, sim. Sabendo disso, e das grandes probabilidades de terminar entre a maioria, não posso deixar de agradecer esses poucos anos de despreocupação. De imaginar, feliz, o que está por vir. Mesmo que nem tudo aconteça.

O ponto é que queria continuar assim. E vou - espero. Tenho um plano. Não é um plano original, mas quero ver se funciona.

Escrevi, quando fiz dezessete anos, uma carta para mim mesma daqui há dez anos. Quando chegar lá, escreverei outra. E assim, deixo meu eu jovem ir cobrando, ano após ano, do meu eu mais velho para que ele não fique preguiçoso demais, acomodado demais, sem esperança demais. Eu vou ser jornalista, eu vou escrever um livro, eu vou adotar três filhos - ou cinco. Eu vou ter dois cachorros e um cavalo, vou fazer outras faculdades, vou morar no exterior. Eu vou viajar o mundo.

Agora, tenho certeza. Mas talvez sejam só as ilusões de inúmeras possibilidades.

sexta-feira, julho 24

"As viagens têm dias ruins..."



Sempre existe, ao menos para mim, aquele súbito momento de decepção quando as férias terminam. Daquele tipo que chega quando notamos que as três semanas que viemos esperando ansiosamente por um semestre... acabaram.

Como assim? Tão rápido? Eu simplesmente acho que não é justo que os ponteiros do relógio corram enlouquecidamente pelo mês de julho, para então se arrastar até dezembro outra vez. Mas, mesmo assim, contra minha vontade, ele acelera.

E aí, você olha para trás e tem a sensação estranha de que ontem estava na aula, e a sensação mais esquisita ainda de que muito tempo se passou desde lá. E as duas lutam entre si, bagunçando a sua cabeça, mas não há mais o que fazer além de arrumar sua mochila e voltar para a escola.

Não que não goste de estudar. Aliás, na faculdade, gosto muito - no ensino médio coisas como física e química realmente me deprimiam, tornando tudo muito pior. Também não nego a diversão de reencontrar os amigos, de conhecer novos colegas, de conversar no intervalo. São todas coisas ótimas. O que destrói meu bom humor não é o acontecimento em sim: é o fato de sempre parecer, no final, que as férias não atingiram minhas expectativas.

É minha culpa, eu sei. Porque por mais que passe semanas maravilhosas (e outras nem tanto) eu sempre espero demais. Fantasio demais. Minha imaginação voa tão alto nos dias que precedem julho que nem se o Johnny Depp caísse na minha frente, lindo e solteiríssimo, e me levasse para as praias do Caribe, eu estaria satisfeita. Tá, mentira, é claro que eu ficaria exultante. Entretanto, como um acontecimento assim nunca se tornou realidade, passo a esperar fatos menores - viagens perfeitas em família, dias divertidos e ensolarados, saídas com aqueles amigos que não vejo há tempos.

Ainda assim, as viagens têm dias ruins, chove, você torce o tornozelo, o assunto acaba, ou você pega uma gripe.

E isso, por mais que eu queira evitar, é normal. Mas não muito empolgante.

A pior parte é que acho que meu problema não tem cura. E também não sei se é de todo ruim - talvez haja algo de positivo em esperar coisas boas, mesmo que nem todas aconteçam. Provavelmente, quem anseia por bons momentos, visualiza-os em sua mente, faz planos para o futuro, vive melhor que um pessimista. Se aprender a lidar com as decepções.

Confesso que ainda não me aperfeiçoei nessa parte: aceitar as imperfeições da vida. Deve ser porque leio histórias demais, ou vejo muita televisão. Ou é um defeito genético, que me faz constantemente esperar que contos-de-fadas se tornem realidade. Mas vou chegar lá.

Ao menos por enquanto, minha imaginação é um lugar muito mais divertido.



P.S.: Minhas aulas voltam dia 27. E, para falar a vedade, minhas férias foram ótimas. Pena que o Johnny não apareceu...

sábado, julho 11

"Livros de Criança"



Entrei em férias essa semana, e, o que considero ser um bom presságio, li dois - que na verdade foram três - dos melhores livros que poderia imaginar. Ambos são literatura considerada infantil. Nem sei por que quis lê-los a esta altura, e não quando criança. Mas, no fim das contas, eu talvez não visse tanto nestas histórias quando tinha seis, sete anos, quanto vi agora.

O primeiro, que foi também o segundo, foi Alice no País das Maravilhas e sua continuação Alice no País do Espelho. Sinceramente, nem gostava da animação da Disney, e tinha poucos motivos para escolher essa história - escolhi mais por causa do filme de Tim Burton e do drama (que recomendo e assisti várias vezes, já) Uma Menina no País das Maravilhas. De um jeito ou de outro, acabei com o livro nas mãos. E comecei a duvidar que fosse realmente uma história infantil. Ou, para não subestimar as crianças, que fosse uma história apenas infantil.

Há frases marcantes em Alice. Uma delas, dita pela rainha Branca, é a seguinte (com uma ou outra variação; não tenho uma memória assim tão boa): "Queria me sentir feliz assim. Mas não consigo me lembrar da regra da felicidade." Há milhares delas. Da rainha Vermelha: "É preciso correr o mais rápido possível, para não sair do lugar. Se quiser ir a outro lugar, terá que correr duas vezes mais." E da Duquesa: "Se cada um cuidasse da própria vida, o mundo giraria bem mais depressa." Ainda outra, esta na verdade um diálogo entre Alice e o famoso Gato de Cheshire:

"- Que caminho devo tomar para sair daqui?

- Isso depende de onde você quer chegar!

- O lugar não importa muito desde que...

- Então não importa o caminho que você vai tomar."

Você pode ler como uma trama boba e meio maluca, como uma viagem engraçada e sem sentido - mas também pode parar um instante e pensar. As personagens de Alice parecem saber muito mais do mundo do que nós, que vivemos nele.

O segundo livro, que foi o terceiro, na verdade, foi O Pequeno Príncipe. E, para surpresa geral, não, eu nunca o tinha lido antes. Depois de tanta propaganda, tomei vergonha na cara e resolvi experimentar. Foi uma decisão maravilhosa - modéstia à parte! Apesar de o mundo todo provavelmente já saber disso, é lindo, e é um retrato triste das pessoas hoje - ainda que um pouco idealista demais. Ou eu sou muito cética.

Além do esperado, "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas" - que todos parecem conhecer - aqui vão alguns trechos:

"É preciso que eu suporte duas ou três larvas, se quiser conhecer as borboletas."

"Se tu vens às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade."

"É como com a flor. Se tu amas uma flor que se acha numa estrela, é bom, de noite, olhar o céu. Todas as estrelas estão floridas."

Como eu posso ser meio exibida, gostaria de parar e analisar as frases, dar um significado, escrever linhas e linhas à respeito. Entretanto, seria muito longo e muito chato - e a magia se perderia quando não sobrasse espaço para imaginar. Cada um, então, que faça sua própria interpretação, e reflita sobre a sabedoria dos livros de criança. Para terminar, a última:

"O essencial é invisível aos olhos." Essa é fácil.

sábado, junho 6

"Ser livre é uma invenção"



Cheguei à conclusão de que liberdade não existe. Ao menos não completamente. E como não existe tal coisa como ser "um pouco" livre, assim como não existe "um pouco" morto ou "um pouco" apaixonado (frase totalmente copiada do filme "A Duquesa", por sinal), podemos concluir que, no fim das contas, ser livre é uma invenção.

Agora, quem disse que isso é ruim? Tenho - como as poucas pessoas que lêem esse blog já devem ter se acostumado - uma teoria. Sim, mais uma.

E essa é fácil: as pessoas não têm liberdade porque dependem umas das outras. Uma menina não vai, por exemplo, pegar um avião para o outro lado do mundo depois de uma briga com o namorado. Ela tem amigos, tem família, tem escola, tem um bichinho de estimação. E ela gosta de todos, e todos precisam dela de alguma forma, e assim ela fica, apesar de sua vontade de ir para o ponto mais distante do planeta. Ela quer ir, mas não pode. Ou, quer e não quer. Assim como um pai não pode simplesmente nunca mais ver sua ex-mulher, já que terá que visitar os filhos eventualmente.

Até aí, ótimo. Cadê o lado bom? Está exatamente no fato de que, para ser total e absolutamente livre, você teria de ser sozinho. Sem ninguém que contasse com você, ou precisasse de você. Sem ninguém que o amasse ou depositasse em você suas esperanças.

Sozinho.

A liberdade exige um desprendimento inalcançável. Ninguém é feliz por conta própria - o que não é a mesma coisa que não estar feliz consigo mesmo. Pessoas são necessárias,
relacionamentos são inevitáveis, quaisquer que sejam. E lá se vai a liberdade, à partir do momento em que é preciso se preocupar com terceiros.

Assim, não ser livre é algo bom. E derrubamos mais uma utopia.

terça-feira, maio 26

"...'sua metade da laranja' e etc. e tal"


Então.

Alguém já reparou a quantidade absurda de músicas de amor que existem? E as do tipo "me perdoe", ou "volte para mim"? São bilhões, aposto - e algumas são mesmo muito boas. Eu, pelo menos, prefiro ouvir sobre um romance (que deu certo ou não) do que sobre a bunda de não sei quem, e o peito de não sei que outra. Mas, ei, isso é comigo.

Então.

Aqui estava eu, escutando música enquanto fazia minha pesquisa de sociologia, e de repente estava pensando: o quão improvável é encontrar uma pessoa certa para você, quando existem mais de 6 bilhões de seres completamente diferentes vagando por aí? Não é de se espantar quantos namoros terminam e quantos casamentos acabam em divórcio. Por que, quer saber? Achar "sua metade da laranja" e etc. e tal pode ser quase impossível.

Sem querer desanimar ninguém, é claro. Afinal, as probabilidades são de que haja mais do que uma única pessoa que sirva para cada um - ou, é o que eu espero. Mas mesmo assim. De súbito, aqueles casais de velhinhos que passeiam na praça de mãos dadas parecem ainda mais dignos de admiração. E, certo, um pouquinho de inveja.

Então.

Fico imaginando se esses casais - os que realmente funcionam, os que foram feitos um para o outro, os que agüentam todos os defeitos do outro e que não chegam ao final como mais um número estatístico - percebem a sorte que têm. Será? Será que, mesmo depois de um dia ruim, do trânsito, de um plano que deu errado, eles conseguem perceber que ainda têm muito mais que a maioria?

Quero dizer, eles encontraram sua família.
Entre 6 bilhões de pessoas.

sexta-feira, maio 22

"Medo"



Já faz umas duas semanas desde o escândalo da Maísa no palco - e mesmo quem não assiste Sílvio Santos, como eu, deve ter visto, porque foi parar no YouTube logo em seguida. No vídeo, a menina começa a gritar e chorar, em desespero, quando vê um menino com maquiagem "assustadora" - aquelas que fazem parecer que ele está todo machucado. O que, aliás, me deixa enjoada até hoje, e eu tenho bem mais de cinco anos.

A cena recebeu centenas de comentários. E a maioria (para o meu choque, fazendo com que eu me lembrasse disso até agora, mesmo fazendo semanas) estava rindo! Minha primeira reação foi ficar... indignada. Sério. Como é que uma criança em pânico é algo engraçado? Quando o medo de alguém se torna risível? É porque ela é famosa? Porque trabalha em um programa de TV? Porque é esperta para a idade? Porquê, sinceramente, nada disso faz dela uma adulta, e muito menos insensível ao medo.

Uma grande parte das pessoas provavelmente não se lembra, mas com certeza houve uma época em que ficávamos apavorados com coisas pequenas. Um palhaço, um passarinho morto na rua, uma máscara de monstro. É um tempo esquecido, já que ver mortos no noticiário ou filmes de violência se tornaram situações comuns. Viramos uma sociedade insensível - os males do mundo não nos chocam mais. A insegurança, as brigas, os assassinatos, os roubos, tudo passou a ser considerado comum. Parte da vida. Algo normal.

Com licença, mas perder a vida não é, nem de longe, algo que possa ser considerado usual. Não a não ser que a pessoa tivesse uns noventa anos de idade. Se esse não é o caso, seria sim o motivo de gritar e chorar em desespero. Um menino com machucados pelo corpo - que foi o que Maísa viu, em sua cabeça - é razão o suficiente para se assustar. As crianças são as únicas que se salvam, com sua sensibilidade. Nós nos acostumamos.

Por isso, ainda que eu ache que estão estragando essa apresentadora-mirim, e que ela vai se tornar insuportável quando crescer, tenho que defender sua atitude aqui. Todos deveriam ser afetados pelas coisas ruins, e querer distância delas, e tentar mudá-las mais a frente. Não apenas comentar a respeito durante a novela das oito...
P.S.2: Sílvio Santos é um idiota!
P.S.3: A fotografia é de Diane Arbus

sexta-feira, abril 24

"Quando você crescer"


Foi há pouco tempo que eu me dei conta de que sou "grande". Ou pelo menos, maior. Sabe, daquele tamanho que você quer ser quando é pequeno - naquela época em que tudo o que parece melhor na vida é "para quando você crescer". E cresci.

Tudo bem, não cheguei a ser uma idosa ainda. Aliás, ainda nem sou maior de idade. Mas estou morando sozinha, na faculdade, posso namorar, tenho cartão de crédito, vou tirar carteira de motorista em um ano (Ou não. Minha coordenação motora é tão inferior que duvido que consiga fazer mais do que dirigir em linha reta. Mas eu poderia, se não fosse por isso). Enfim, são essas coisas que parecem simplesmente tão adultas! E o estranho é... eu ainda estou esperando pelo dia em que vou olhar no espelho e me ver adulta. E pensar como adulta. Porque até agora, eu continuo achando que estou, bem, igual.

É claro que não estou igual. Quer dizer, estou mais alta, a fase horrorosa de espinhas veio e passou, e eu tenho a agradável experiência das cólicas insuportáveis uma vez por mês. Eu aprendi a lidar com o meu cabelo crespo e superei aquela timidez gigantesca que me manteve de boca fechada por alguns anos. Então, assim, eu mudei um pouquinho.

Mas, de alguma forma estranha e meio infantil, eu continuo pensando em mim como sempre pensei desde que consigo me lembrar. Da mesma maneira de quando eu era pequena e queria ser grande - e isso foi em uma época em que, para mim, o auge da maturidade era ter doze anos. Acontece que eu passei os doze, os quinze, e os dezessete não são tanta coisa assim. Eu não sou tão independente, tão corajosa, tão mulher-maravilha como eu costumava achar que uma pessoa grande deveria ser. Eu ainda implico com a minha irmã menor, tenho medo de andar à noite, fico nervosa antes de falar em público... todas essas coisas inseguras e bobas de criança, eu ainda passo por elas.

Talvez por isso tenha sido uma surpresa tão grande me dar conta de que já não sou mais vista assim. Não é estranho? E o que é mais estranho: será que eu vou ser eu para sempre (sim, porque na minha cabeça, a Marcela-Adulta tinha praticamente uma outra personalidade, de tão incrível e bem-resolvida que era. Ah, e era arrasadoramente linda também, é claro!)? Será que não chega o dia em que você acorda e, BAM, virou adulta?

E será que mais alguém se preocupa com isso? Ou são maluquices de uma cabeça de criança?

sábado, abril 18

"... É apenas um jogo de dados"



No fim das contas, pensei, estamos ficando mais fracos. Já reparou? A lei do mais forte parou de existir, e agora os seres humanos vivem um vale-tudo. Não há muita justiça na escolha dos "mais ricos", "mais poderosos", "mais influentes".

Não é preciso ser forte, inteligente, nem mesmo bonito - afinal, já inventaram o photoshop para isso. Ter dinheiro até ajuda, mas, no geral, é apenas um jogo de dados. É pura sorte, é estar no lugar certo na hora certa. E conhecer as pessoas certas.

Antigamente, quem carregasse algum gene defeituoso, ou possuísse alguma anomalia ficava à parte da sociedade. Não estou defendendo que isso seja bom ou ruim. Mas, assim, esses problemas não passavam adiante. Hoje há remédios que possibilitam o doente de ter uma vida normal - mas a doença continua lá para seus filhos. Se uma pessoa faz plástica no nariz, isso não significa que seu bebê não terá um narigão. Nós estamos permitindo que a humanidade fique cada vez mais fraca.

É como o caso que foi divulgado ano passado, sobre um casal com Síndrome de Down que teve uma criança. Foi surpreendente a opinião geral. "Que lindo", exclamavam uns, "Isso prova que eles podem ter uma vida normal" diziam outros. Mas esperem um segundo. Será que ninguém pensou naquela terceira vida? Como duas pessoas incapazes de cuidar de si mesmas poderiam, de qualquer maneira, tomar conta de um bebê? E quando ele crescesse? E quando superasse a idade mental dos pais - se superasse? Uma gravidez assim não é linda, não é uma benção, é um risco para os envolvidos, uma tristeza passada adiante.

Sob alguns aspectos, estamos politicamente corretos demais enquanto tentamos nos convencer de que um adulto que não sabe ir ao banheiro, fazer compras ou comer sozinho é "normal". Porque não é. E não é errado admitir, não é crime, não é maldade. Há pessoas maravilhosas que carregam grandes deefitos, sim. Mas fingindo que deficiências são presentes, estamos garantindo um futuro deficiente, ao invés de lutando para combatê-las.

No fim das contas, então, estamos ficando mais fracos.

quarta-feira, março 25

"... minhas dez besteirinhas preferidas"



Eu já havia escrito essa lista antes - esqueci de salvá-la quando deletei meu blog antigo. Mas as pessoas têm muito poucos motivos para ficar felizes, às vezes, e é bom lembrar do que alegra nosso dia. Então, aqui vão as minhas dez besteirinhas preferidas:

1. Acordar no meio da noite e ver que ainda faltam horas para o despertador tocar
2. Ler um bom livro
3. A descida de uma montanha-russa
4. Barulho de chuva na janela
5. Doces, chocolates, e variantes açucarados
6. Ataques de riso incontroláveis
7. Frio, cobertas, um filme e pipoca
8. Ganhar um presente, sem razão nenhuma, sem qualquer ocasião especial
9. Viajar
10. Ouvir sua música preferida começando na hora que você liga o rádio

O que faz você feliz?

domingo, março 22

"A Teoria do Egoísmo"


Eu tenho uma teoria. Chama-se "A Teoria do Egoísmo". E ela é muito simples: as pessoas no mundo deviam ser mais egoístas.

Sim, isso vai contra todos os princípios de ajude o próximo, faça o bem sem ver a quem, e todos os outros mantras que são repetidos para nós desde bebês. Acontece que isso não funciona. O planeta possivelmente seria um lugar melhor se cada um cuidasse da sua vida e dos seus entes queridos. E ponto final.

Por exemplo, os programas que ajudam famílias necessitadas: Bolsa Família, Cesta Básica, e uma longa lista de etcs. O que um desempregado ganha com tudo isso é mais do que um salário mínimo poderia comprar. E é claro que isso mostra um problema gravíssimo no país, mas o ponto é que se parassem de ajudar tanto, grande parte dessa gente arrumaria um emprego e daria um jeito na vida. Não todos. Eu tenho total consciência de que a vida não é assim tão fácil de se consertar. Mas uma grande parte.

E guerras - toda essa história de morrer pelo seu país, a honra de lutar pela sua pátria... Se os homens pensassem apenas na sua segurança, no bem estar da sua família, e se recusassem a lutar, quem guerrearia? Eu duvido que o presidente de uma nação fosse sair no tapa com outro líder por causa de petróleo ou um pedaço de terra. Até por quê, de que adiantaria?

Isso sem falar na culpa. A culpa é uma das mais fortes causas de estresse da atualidade. No momento em que cada um se preocupasse apenas com o que é bom para si e para quem ama, a culpa diminuiria drasticamente. Você poderia tirar o melhor da vida, sem se preocupar demais.

A lista de benefícios do egoísmo continua, e eu tenho certeza que ela é criticada muito mais do que apoiada. Mas, sinceramente, por enquanto essa me parece a melhor forma de viver - a mais agradável, a mais saudável. A mais honesta, já que cada um teria apenas o que fez por merecer. Para viver pela teoria do egoísmo de maneira justa, infelizmente, a população teria que atingir um nível de honestidade ainda muito distante. Então, acho que vamos continuar nos preocupando com quem simplesmente não quer se preocupar...

sexta-feira, março 20

"Pers-pec-ti-va. Ela estala na sua boca"



Perspectiva. "Perspectiva" é a minha palavra preferida na língua portuguesa. Diga em voz alta - o som é ótimo. Pers-pec-ti-va. Ela estala na sua boca.

Perspectiva quer dizer ponto de vista, é o ângulo pelo qual você analisa uma situação. E se você perguntar a cem pessoas sobre um mesmo assunto, é possível que tenha cem respostas diferentes. Cada um vê o mundo de forma diferente. Cada um tem uma perspectiva diferente.

Então, essa é a minha palavra favorita. Foi por isso que a escolhi como título do meu projeto de fotografia da faculdade, com a proposta de capturar momentos de contraste, pessoas opostas, idéias fora do normal - tudo em uma fotografia. E conseguir mostrar o que essas coisas têm em comum.

Foi o que me fez ser escolhida: não a parte das diferenças, mas a parte do "em comum". Nós vivemos focados nos contrastes - o rico e o pobre, o bom e o mau, o negro e o branco - como se eles fossem seres de espécies diferentes, sem nada que os unisse. E acontece que, pela minha perspectiva, todos se parecem em pelo menos alguma característica - mesmo um pequeno detalhe, mesmo um pontinho insignificante de sua personalidade.
Assim, esse é o meu lugar para dar a minha opinião. A minha perspectiva. Sobre qualquer coisa, qualquer um, a qualquer momento. Ninguém precisa concordar com ela. Afinal, that's just the way I see the world.