terça-feira, dezembro 22

"Há Um Ano"





Eu acordei cedo naquele dia, vesti a roupa que havia escolhido depois de tantas ponderações no dia anterior. Não lembro se tomei café, mas minha mãe deve ter me obrigado a colocar alguma coisa no estômago inquieto. Recebi abraços de boa sorte, estava pulando de um lado para o outro, nervosa, ansiosa, empolgada. Apavorada.

Andei com a minha mãe até o ponto de ônibus enquanto o sol ainda se espreguiçava, nem aparecia totalmente. E lá estava eu - cidade nova, pessoas novas, e, que deus me protegesse, uma linha de ônibus que eu nunca tinha visto antes e que, com sorte, me levaria a faculdade.

Era meu primeiro dia. A universidade parecia gigantesca, perfeita para que eu me perdesse, e todos tinham aquele ar de gente muito importante, muito ocupada, muito inteligente. Quer dizer, eles deveriam ser isso tudo, não? Eles estavam no ensino superior! Ah, ops... Agora, eu também estava. Ainda assim, era para eu me sentir tão... pequena? E desnorteada?

Isso foi há um ano atrás - e parece mais que uma vida. Eu não conhecia ninguém, não acreditava realmente na minha capacidade de morar sozinha, tinha certeza absoluta de que ia me perder centenas de vezes na minha nova cidade grande - e era orgulhosa demais para pedir ajuda. Queria desesperadamente provar para mim mesma que podia fazer aquilo, que podia ser a pessoa que queria. Estava tão, tão animada, e tão completamente mortificada ao mesmo tempo!

Hoje? É até engraçado. A idéia de não ir à faculdade é ridícula. Sabe, é um milhão de vezes melhor do que a escola. E as pessoas? Aquelas criaturas estranhas, independentes, bem-resolvidas? Acontece que, a partir do primeiro "oi" sem graça, elas se tornam iguais a você - e, como você, elas não sabem exatamente como agir no início. E, um pouco mais tarde, elas se tornam suas amigas, e, alguns meses depois, é impossível imaginar a vida sem elas! Não é uma maluquice total e completa que agora eu me importe tanto com pessoas que nem sequer conhecia onze meses atrás?

E que eu conheça as ruas ao meu redor, e tenha pontos de referência - certo, não muitos. Eu amadureci, mas continuo um ser perdido, incapaz de guardar mapas na cabeça - e restaurantes preferidos, e lugares para ir? Que eu saiba pagar contas, e cozinhar e ir ao supermercado, e limpar o apartamento, e ficar sozinha depois de ver séries policiais ou trailers de filmes de terror sem morrer de medo? Não é a coisa mais incrível do mundo que eu tenha uma rotina, uma vida inteira que não imaginava há um ano?

E que, aliás, pedir informações não seja algo tão vergonhoso como eu supunha?

Bem, pode não parecer muito para vocês. Para mim? É a maior vitória, o maior orgulho da minha vida. Mesmo que falte um longo caminho - com pequenas coisas, sem importância, tipo, hã, arrumar um emprego? Só detalhes dispensáveis, haha - eu aprendi a me virar por conta própria. Por conta própria com uma ligação diária para casa, porque continua sendo indispensável ouvir a minha mãe de vez em quando. But, anyway.

Eu mudei. Não doeu nadinha! Sem querer soar repetitiva, mas não é incrível?

Enfim, esse é provavelmente o último post do blog, esse ano. Então, queria que ficasse devidamente registrado que ele foi maravilhoso - e só um  pouquinho difícil, no começo (entretanto, se não fosse, qual seria a graça?). Obrigada a todas às pessoas novas e às pessoas antigas, que continuaram comigo. E aos meus quatro ou cinco leitores, é óbvio, já que sem vocês eu estaria simplesmente desabafando para o nada e, afinal, é bom ser ouvida.

Bom Natal, feliz Ano Novo, e que 2010 seja ao menos tão bom - mas, de preferência, que seja muito melhor - que 2009, para todos vocês.

Marcela L.

segunda-feira, dezembro 7

"E se eu tivesse três desejos?"



1, 2, 3... Afastem-se! Biiiip. Operação de ressucitação realizada com sucesso. O blog está vivo, senhoras e senhores! É um milagre!

Maravilha, agora vamos ao que interessa. Eu fiz dezoito anos. E, como a emoção de me tornar maior de idade é grande - ainda que eu não beba, não tenha nenhum desejo secreto de experimentar drogas e não planeje ser presa OU alugar filmes pornôs, o que já me avisaram que eu posso fazer, se quiser - esse vai ser o ponto de partida do meu texto de hoje. No próximo, juro que volto com mais teorias mirabolantes e idéias polêmicas, para vocês ficarem bem reflexivos em seus lares.

Ter dezoito anos é... Bom, é basicamente a mesma coisa que ter dezessete, para dizer a verdade. E, para quem está esperando uma grande mudança de personalidade desde os quatro anos, mais ou menos, isso já não é novidade. Eu sempre acho que vou encontrar alguma alteração dramática em mim mesma após soprar as velinhas, e sempre tenho que aceitar que, no fim das contas, não vou acabar muito distante do que sou agora. Não que eu tenha do que reclamar, não mesmo. Não que eu não fosse gostar de ter uns quilos a menos - sem exercícios e comendo todas as besteiras possíveis, é claro.

Se bem que, se vou entrar no quesito desejos impossíveis, é melhor caprichar. Quer dizer, e se um dia eu estivesse andando por aí, muito distraída, rindo de alguma bobagem que havia acontecido mais cedo e enrolando um cacho de cabelo na ponta do dedo, e descobrisse que na verdade não estava tropeçando nos próprios pés como de costume, mas sim em uma lâmpada mágica? E se eu vivesse em um mundo paralelo onde essas coisas de fato acontecessem, e esfregasse a lâmpada e dela saísse um gênio e me concedesse três desejos?

(Nossa, e se eu realmente amadurecesse com dezoito anos e parasse de imaginar histórias desse tipo? O que seria da minha vidinha não tão emocionante quanto os contos de fadas?)

Retomando; caso essa oportunidade apareça, é bom estar preparada. Então, como não custa ser prevenida, preparei uma lista com os meus três desejos - só por garantia, todos muito bem detalhados e esmiuçados. Vai que eu encontro um gênio de meia-tigela? Nunca se sabe.

1. Em primeiro lugar, eu pediria para que eu e todas as pessoas de quem eu mais gosto vivêssemos por todo o tempo que quiséssemos, 100, 200, 300 anos, e com a saúde perfeita. É claro que, quando decidissemos que a hora tinha chegado, que a vida na terra já não era mais grande coisa e que estávamos prontos para partir, poderíamos morrer apenas fechando os olhos e desejando. Eu acho que esse é um desejo muito melhor do que um simples "viver para sempre", já que deve ser muito solitário ver todos os seus amigos e família partirem e ter que continuar sem eles. E, assim, não haveria o medo de não ter tempo suficiente, nem de ficar solitário.

2. Como um grupo razoavelmente grande de pessoas viveria por tempo indeterminado, seria bom ter algumas garantias. Assim, meu segundo desejo seria uma conta mágica no banco que sempre cobrisse o valor retirado. Não que eu não tenha vontade de trabalhar, de ganhar dinheiro com esforço e merecimento - tenho sim. Mas a idéia de poder fazer só o que gosto e ainda viajar nas férias anos após ano parece tão boa que dá vontade de dançar.

O que eu faria com o dinheiro, além de viajar para cada mínimo cantinho inexplorado do planeta? Compraria uma casa linda, com um pátio enorme, nem grande nem pequena demais. Pintaria as paredes de azul e o telhado de branco, e teria flores em canteiros ao redor. Então compraria uma casa para os meus pais pertinho de mim, e uma lancha para os dias de praia no verão, e cavalos para os dias de inverno no campo. E daria os melhores presentes do mundo nos aniversários dos meus amigos, e adotaria uns cinco filhos - com um salário de jornalista, é altamente improvável que eu consiga criar mais de duas crianças de forma apropriada, mas é bom manter as esperanças.

3. Por fim, eu ia querer um romance de cinema. Um amor no estilo "O Diário de Uma Paixão", com beijos na chuva e tudo o mais. Ia querer uma história linda todos os dias, com surpresas e aventuras e só um pouquinho de rotina confortável, segura, algo firme em uma tempestade, e mais nada.

Eu ia querer uma vida boa demais para ser verdade - uma vida que eu ainda espero que aconteça, de forma um pouquinho mais realista, tudo bem, todos os dias. Certo, certo, eu admito. Os dezoito anos ainda não devem estar surtindo efeito. Talvez nunca surtam. Mas esses seriam meus desejos.

O que você pediria?