sexta-feira, julho 24

"As viagens têm dias ruins..."



Sempre existe, ao menos para mim, aquele súbito momento de decepção quando as férias terminam. Daquele tipo que chega quando notamos que as três semanas que viemos esperando ansiosamente por um semestre... acabaram.

Como assim? Tão rápido? Eu simplesmente acho que não é justo que os ponteiros do relógio corram enlouquecidamente pelo mês de julho, para então se arrastar até dezembro outra vez. Mas, mesmo assim, contra minha vontade, ele acelera.

E aí, você olha para trás e tem a sensação estranha de que ontem estava na aula, e a sensação mais esquisita ainda de que muito tempo se passou desde lá. E as duas lutam entre si, bagunçando a sua cabeça, mas não há mais o que fazer além de arrumar sua mochila e voltar para a escola.

Não que não goste de estudar. Aliás, na faculdade, gosto muito - no ensino médio coisas como física e química realmente me deprimiam, tornando tudo muito pior. Também não nego a diversão de reencontrar os amigos, de conhecer novos colegas, de conversar no intervalo. São todas coisas ótimas. O que destrói meu bom humor não é o acontecimento em sim: é o fato de sempre parecer, no final, que as férias não atingiram minhas expectativas.

É minha culpa, eu sei. Porque por mais que passe semanas maravilhosas (e outras nem tanto) eu sempre espero demais. Fantasio demais. Minha imaginação voa tão alto nos dias que precedem julho que nem se o Johnny Depp caísse na minha frente, lindo e solteiríssimo, e me levasse para as praias do Caribe, eu estaria satisfeita. Tá, mentira, é claro que eu ficaria exultante. Entretanto, como um acontecimento assim nunca se tornou realidade, passo a esperar fatos menores - viagens perfeitas em família, dias divertidos e ensolarados, saídas com aqueles amigos que não vejo há tempos.

Ainda assim, as viagens têm dias ruins, chove, você torce o tornozelo, o assunto acaba, ou você pega uma gripe.

E isso, por mais que eu queira evitar, é normal. Mas não muito empolgante.

A pior parte é que acho que meu problema não tem cura. E também não sei se é de todo ruim - talvez haja algo de positivo em esperar coisas boas, mesmo que nem todas aconteçam. Provavelmente, quem anseia por bons momentos, visualiza-os em sua mente, faz planos para o futuro, vive melhor que um pessimista. Se aprender a lidar com as decepções.

Confesso que ainda não me aperfeiçoei nessa parte: aceitar as imperfeições da vida. Deve ser porque leio histórias demais, ou vejo muita televisão. Ou é um defeito genético, que me faz constantemente esperar que contos-de-fadas se tornem realidade. Mas vou chegar lá.

Ao menos por enquanto, minha imaginação é um lugar muito mais divertido.



P.S.: Minhas aulas voltam dia 27. E, para falar a vedade, minhas férias foram ótimas. Pena que o Johnny não apareceu...

sábado, julho 11

"Livros de Criança"



Entrei em férias essa semana, e, o que considero ser um bom presságio, li dois - que na verdade foram três - dos melhores livros que poderia imaginar. Ambos são literatura considerada infantil. Nem sei por que quis lê-los a esta altura, e não quando criança. Mas, no fim das contas, eu talvez não visse tanto nestas histórias quando tinha seis, sete anos, quanto vi agora.

O primeiro, que foi também o segundo, foi Alice no País das Maravilhas e sua continuação Alice no País do Espelho. Sinceramente, nem gostava da animação da Disney, e tinha poucos motivos para escolher essa história - escolhi mais por causa do filme de Tim Burton e do drama (que recomendo e assisti várias vezes, já) Uma Menina no País das Maravilhas. De um jeito ou de outro, acabei com o livro nas mãos. E comecei a duvidar que fosse realmente uma história infantil. Ou, para não subestimar as crianças, que fosse uma história apenas infantil.

Há frases marcantes em Alice. Uma delas, dita pela rainha Branca, é a seguinte (com uma ou outra variação; não tenho uma memória assim tão boa): "Queria me sentir feliz assim. Mas não consigo me lembrar da regra da felicidade." Há milhares delas. Da rainha Vermelha: "É preciso correr o mais rápido possível, para não sair do lugar. Se quiser ir a outro lugar, terá que correr duas vezes mais." E da Duquesa: "Se cada um cuidasse da própria vida, o mundo giraria bem mais depressa." Ainda outra, esta na verdade um diálogo entre Alice e o famoso Gato de Cheshire:

"- Que caminho devo tomar para sair daqui?

- Isso depende de onde você quer chegar!

- O lugar não importa muito desde que...

- Então não importa o caminho que você vai tomar."

Você pode ler como uma trama boba e meio maluca, como uma viagem engraçada e sem sentido - mas também pode parar um instante e pensar. As personagens de Alice parecem saber muito mais do mundo do que nós, que vivemos nele.

O segundo livro, que foi o terceiro, na verdade, foi O Pequeno Príncipe. E, para surpresa geral, não, eu nunca o tinha lido antes. Depois de tanta propaganda, tomei vergonha na cara e resolvi experimentar. Foi uma decisão maravilhosa - modéstia à parte! Apesar de o mundo todo provavelmente já saber disso, é lindo, e é um retrato triste das pessoas hoje - ainda que um pouco idealista demais. Ou eu sou muito cética.

Além do esperado, "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas" - que todos parecem conhecer - aqui vão alguns trechos:

"É preciso que eu suporte duas ou três larvas, se quiser conhecer as borboletas."

"Se tu vens às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade."

"É como com a flor. Se tu amas uma flor que se acha numa estrela, é bom, de noite, olhar o céu. Todas as estrelas estão floridas."

Como eu posso ser meio exibida, gostaria de parar e analisar as frases, dar um significado, escrever linhas e linhas à respeito. Entretanto, seria muito longo e muito chato - e a magia se perderia quando não sobrasse espaço para imaginar. Cada um, então, que faça sua própria interpretação, e reflita sobre a sabedoria dos livros de criança. Para terminar, a última:

"O essencial é invisível aos olhos." Essa é fácil.