domingo, maio 23

"Os Ponteiros estão Voando"

Quando você começa a aprender demais, ser cobrado demais, analisado demais, se torna um pouco difícil lembrar dos motivos pelos quais você gostava de escrever antes. Sem tantas regras, sem fórmulas prontas. Sem receber notas por isso, sem se preocupar com o que outros possam pensar. Eu amo escrever, e deixei que se tornasse uma obrigação por algum tempo.

É só uma desculpa por não ter escrito por tanto tempo. É muito ruim? É a que eu tenho.


A universidade é um período estranho. Ou eu estou agora estranha demais para ele, quem sabe. Talvez seja uma crise existencial. Minha mãe disse que se chama preguiça. Talvez eu esteja com preguiça da vida.

O estranho da universidade é que de repente a época de sonhar acaba. Não adianta muito ficar em casa com sua melhor amiga, falando bobagens e inventando o futuro. Não adianta muito pensar em uma casa branca de janelas vermelha, com flores no jardim. Esse tempo passou, pensar é pouco demais, não é bom o bastante. É preciso comprar um terreno, e tinta vermelha, e arrumar dinheiro para o tal terreno e a tal tinta vermelha.

O estranho é que você já tomou a grande decisão da sua vida - o que você vai ser quando crescer? E aí, você já cresceu.

Eu nunca tive medo de crescer. Era o que eu mais queria, ansiava. O que poderia ser melhor do que ser grande? Eu queria acelerar os ponteiros do relógio, queria que corressem para mim, porque ser grande simplesmente parecia bom demais. E eles me atenderam, infelizmente, ganhando velocidade à cada ano, à cada velinha em cima do bolo, até levantarem voo. Estão fora de controle, agora.

Eu não fiz tudo o que me imaginava fazendo até a faculdade. Sou boa em planejar, em sonhar sonhos impossíveis, e já não tão boa assim em fazer algo de fato. E, para piorar, os ponteiros do relógio estão voando.

Não falei que estava em crise existencial? A primeira da minha vida, se bem que ainda não vivi tanto assim. Talvez seja normal.

A vontade que tenho é de parar o mundo. Só apertar o botão de "pause". Parar minha família e meus amigos e minhas aulas e minha vida toda - eu sou egoísta, vocês sabem. Quero parar, porém não suporto a ideia de os outros continuarem sem mim. Quero parar e me esconder um pouco, só por algum tempo, e esperar passar. Quanto tempo leva para o sentimento ir embora? Uma semana? Duas? Um ano? Acho que não aguentaria um ano assim, sendo arrastada pela multidão, sem me preocupar de verdade com nada. Eu mencionei isso? Que, dentre todas as coisas que me empolgavam antes, agora nenhuma parece ter grande importância? Não consigo me preocupar com nada. Na realidade, me preocupa o fato de não me preocupar.

Isso faz sentido para mais alguém? Talvez eu esteja ficando louca. Talvez eu tenha talento para histórias, talento para fantasia. Talvez não tenha talento para viver.

2 comentários:

  1. Mar,
    Te compreendo e passei por algo parecido, mas depois a gente nota que, na verdade, o que está acontecendo é que estamos amadurecendo; e acho que pra todo mundo que passou pela nossa idade deve ter sido parecido.
    Nós temos que escolher uma profissão, se especializar e tentar ser o melhor possível nela senão vem outro e passa a frente, temos que fazer contatos profissionais, que não são os nossos colegas de sala de aula ou amigos, são pessoas que vc não faz idéia de quem sejam mas que tem interesses em comum, temos que começar a nos preocupar com os gastos e contas... enfim, são uma série de mudanças que comprovam a nossa entrada para o "mundo dos adultos". Acho que deve ser mais ou menos pelo q vc está passando, mas se não for, logo passa! hahahahah
    Sabe que se precisar desabafar e só chegar junto... hahahaha
    Beijos
    Ah!Tava com saudades dos teus textos! ;D

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  2. Pior que eu também. Tava com pregiuça de ler esse já faz muito tempo. Poxa, me identifiquei quase que completamente com ele, principalmente este trecho "Sou boa em planejar, em sonhar sonhos impossíveis, e já não tão boa assim em fazer algo de fato. E, para piorar, os ponteiros do relógio estão voando", cujo sou igual e o último parágrafo. Ótimo tudo isso Marcela. Bjs e Obrigado.

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