sábado, julho 3

"Para Vivi"

É claro que eu poderia falar de milhares de coisas. Minha crise existencial veio e passou, a faculdade se esforçou para sugar cada minuto da minha vida até o fim do semestre, arrumei um estágio durante as férias e finalmente me veio o baque (eu sei, sou ingênua, deveria ter percebido antes): a vida é isso. Não adianta esperar, por mais que eu queira, um momento em que tudo vai estar no lugar. A vida já é um sucesso se você tem 50% dela resolvida. Mais que isso, só se você for uma princesa da Disney ou tiver menos de cinco anos de idade.

Foi uma percepção triste, admito. Mas fazer o quê? Deve fazer parte do pacote quando se cresce. E toda essa nova ideologia de manter os pés no chão e controlar expectativas pode ser útil para evitar decepções. Pode, apesar de eu ainda não ter tido oportunidades de testá-la - confesse, imaginar desfechos maravilhosos com direito a chuvas de pétalas e coros de aleluia é muito mais satisfatório. É, chuvas de pétalas são um pouco exageradas...

De qualquer forma, essa é só a minha enrolação de sempre, minha cabeça cheia até as bordas começando a derramar idéias perdidas. Alguns dias são assim, simplesmente te ocupam demais, exigem demais. Meu pobre cérebro está esgotado.



Minha irmã menor fez uma cirurgia hoje. Ela não é tão pequena assim - grande o bastante para voltar de festas às seis da manhã e beijar todos os meninos que quiser - mas continua sendo uma irmãzinha. Sabe, aquela criaturinha pentelha e irritante que você agüenta por anos e anos, que nunca perde a chance de implicar um pouco ou te delatar para os pais. Que consegue tudo o que quer com uma carinha de choro convincente, e faz com que, eventualmente, você escute a tal frase abominável - "Ah, coitadinha, ela é menor que você...". Bem, sim, é ela mesma.

E não importa o quanto você jure que não vá sentir sua falta, que queria ser filha única, que ela não faz nada além de atrapalhar sua vida, que seus pais a preferem - preferem ela a você, logo você, um filho tão perfeito e incompreendido! Não importa.

Tampouco importa o fato de ela ser mais popular ou bonita que você. Nem que ela seja cheia de atitude - atitude demais para caber em uma menina de catorze anos. Onde foi parar a tal insegurança adolescente? Minha irmã nasceu sem esse gene. E se ela já teve vários namorados, já provou bebida alcoólica, já diz palavras como "desprezível" e "bizarro" (pois é, os insultos dela se desenvolveram muito ultimamente. Nada de "chato" ou "idiota", ela xinga com classe...)? E daí? Ela é uma irmãzinha, ela é o bebê. Ela ainda vai ser o bebê da família com setenta anos, velhinha e enrugada.

Ver minha irmãzinha entrando e saindo da sala de cirurgia foi absurdamente ruim, pior do que pensei que seria.

Acho que estava com mais medo do que ela. Tudo bem, já estou acostumada a ser o membro mais ansioso da família. Eu passo horas refletindo sobre cada uma das terríveis possibilidades de erro, de ela sentir dor, de algo não sair como planejado. É tortura, é apertar o botão de auto-destruição. E, no entanto, não consigo evitar.

Eu só fico chateada por não poder ser uma irmã melhor. Uma irmã que não ia passar mal ao vê-la tirar sangue, por exemplo, ou que conseguisse ficar calma com as dezenas de tubos enfiados por todo o seu corpo. Eu queria não ter vontade de chorar a cada vez que a vejo assim, porque ela sempre parece tão pequena e indefesa e o fato de justamente ela dentre todo o mundo ter tido escoliose me deixa louca. Por que não outra pessoa? Tantas pessoas bem que poderiam ter uma doença assim, tantas fizeram por merecer...

Ela está bem agora. Em uma semana, vai estar em casa e, aos poucos, tudo volta ao normal. Porém nada explica o porquê de ela ter que passar por isso em primeiro lugar. Eu, definitivamente, nunca vou entender como o mundo funciona.

Aproveitei o fato de ela estar dormindo agora para escrever esse texto. Não sei bem como terminá-lo. É mais um desabafo do que qualquer outra coisa, eu não tenho de verdade uma moral ou uma teoria para passar, nada que vá fazê-los refletir ou mudar os rumos da humanidade. Apenas, talvez, eu deva dizer para que vocês tratem melhor os seus irmãozinhos. Ou não - eu e a Vivi brigamos o tempo todo desde que o seu cordão umbilical foi cortado, e isso não significou que nos amássemos menos. Brigar é só mais um jeito esquisito de amar as pessoas, então, se você quiser enfrentar sua irmã por, sei lá, ela ter comido o último pedaço de bolo ou pegado uma roupa sua sem pedir, vá em frente. É normal. E ela vai continuar sabendo que você a ama para sempre, sempre, sempre, de todo o coração.

(E, Vics, melhore logo! Só não pense que esse post significa que eu não vou mais me irritar da próxima vez que você bagunçar todo o banheiro ou monopolizar o computador...).

2 comentários:

  1. Que lindo seu post, Mar...
    Espero que a Vivi melhore logo,
    só de pensar na cena fiquei triste,
    mal conheci a Vitória e percebi que ela é cheia de vida...
    Então, que logo ela saia do hospital, pq só de pensar na cena, fico triste também...

    ;D

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  2. Oooooioii!!

    oxi...que saudades de ler esse blog! : ]

    hehe Euu qui sua mana vai melhorar logo logoo Maar! I já já ela vai estar saltitando por ai de novo! ^^ hehe

    Euu na verdade...nunca quis ser filha única! hehe Nunca imaginei minha vida sem meu irmão, i si eli morresse, eu morria juntu acho! hehe
    ter irmão eh u ki há! *.*

    Eeee vc concorda comigo qui eu sei! : ] hahah

    Parabens pelo post! adorei!!
    e que bom qui deu tudu certo! ^^

    Melhooraas pra Vic! ; ]

    beijooooh

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